ESFINGE De quem é o rosto que a cabeça da esfinge de Gizé, que vemos ao lado, tenta retratar? Como há indícios de que o construtor daquele monumento teria sido Kéfren, acredita-se que a cabeça do leão tenha sido esculpida à semelhança daquele faraó. Isso será mesmo verdade? Os estudiosos que defendem a tese de que a esfinge é anterior à época de Kéfren negam totalmente essa semelhança. John Anthony West, um dentre tais estudiosos, chegou a recrutar a ajuda de um artista policial forense para dirimir as dúvidas a respeito do assunto. Se a face da esfinge não se assemelha à de Kéfren, isso é uma evidência de que um outro faraó mandou esculpir o leão.



ROSTO DE KÉFREN Frank Domingo, o homem contratado, usou para comparação uma famosa estátua de diorito do governante pertencente ao Museu Egípcio do Cairo, cuja parte superior vemos ao lado. Ele concluiu que a face da esfinge não é a mesma face vista nas estátuas do construtor da segunda grande pirâmide. O que se questionou é se o rosto da estátua realmente reproduz com exatidão o rosto de Kéfren. Existe outra estátua de Kéfren, em alabastro, pertencente ao Museum of Fine Arts, de Boston, visto na ilustração abaixo, que difere em alguns aspectos da estátua em diorito. Pergunta-se: a que conclusão chegaria o perito caso fizesse uma comparação entre as duas estátuas?






ROSTO DE KÉFREN Um aspecto importante a ser considerado é que no antigo Egito não era tanto a semelhança física de uma estátua com seu dono que identificava a obra, mas sim o nome na inscrição. As estátuas eram representações idealizadas, até mesmo no Império Antigo (c. 2575 a 2134 a.C.), e a figura só poderia ser relacionada com um indivíduo em particular quando a inscrição fosse gravada. Este procedimento artístico tornou fácil para os faraós usurparem as estátuas uns dos outros. As inscrições faziam parte essencial das estátuas, forneciam a identidade de seu proprietário, declinando seu nome e títulos. Entretanto, a representação de sua aparencia externa era normalmente generalizada, sem características individuais, com exceção de algumas obras-primas. Se a esfinge é a representação idealizada de um faraó, sua única identificação com um indivíduo em particular teria que ser feita por meio da inscrição de seu nome, muito mais do que pela semelhança física. É provável que o tempo ou um faraó subsequente tenha apagado o nome original

A esfinge foi esculpida na pedra calcária e isso, sem dúvida nenhuma, apresentou certas limitações devido às camadas da pedra, às fissuras, à friabilidade, fatores que poderiam afetar sua forma. A face da esfinge foi esculpida, provavelmente, por uma equipe de trabalhadores e não por um único artista e, é óbvio, o rei não posou enquanto a imagem foi criada. Ambos estes fatores poderiam causar um desvio adicional da realidade. Vejamos exemplos dessas dificuldades: o olho esquerdo está mais acima do que o direito e a boca um pouco descentralizada; o eixo do contorno da cabeça difere do eixo das características faciais; a qualidade dos detalhes que aparecem na face da estátua de diorito de Kéfren está ausente na face da Esfinge.

Existe ainda o problema da ausência do nariz da figura. O que teria acontecido com ele? Segundo consta, as tropas de Napoleão Bonaparte teriam usado o nariz para exercício de tiro ao alvo em 1798. Desenhos feitos para a grande obra dos cientistas que acompanharam o imperador francês, La Description de L'Egypte, mostram a esfinge sem nariz. Desenhos feitos em 1579 por Johannes Helferich, bem como os que foram feitos em 1737 pelo viajante britânico Richard Pococke mostram um nariz na esfinge. Entretanto acredita-se que, nos dois casos, tratou-se apenas de uma liberdade dos artistas. Helferich chegou a delinear a figura com traços nitidamente femininos. Por outro lado, Frederick Lewis Norden, artista e arquiteto, também esboçou a esfinge em 1737 em desenhos bem detalhados que foram publicados em 1755. Nesse caso o trabalho era bem mais realístico e nele a esfinge aparece sem nariz. Acredita-se improvável que Norden omitisse o nariz se ele lá estivesse. Portanto, é bem provável que o nariz da esfinge tenha sido destruído antes de 1737 e não caberia culpa às tropas de Napoleão pelo seu desaparecimento.

Uma narrativa interessante apresentada pelo historiador Muhammad al-Husayni Taqi al-Din al-Maqrizi, falecido por volta de 1442, em um livro editado em 1913, afirma que a face da esfinge, mais especificamente o nariz e as orelhas, foi destruída em 1378 por um rei persa chamado Sa'im al-dahr. A razão para o vandalismo teria sido a de corrigir alguns erros religiosos. Naquela época alguns egípcios ainda faziam oferendas ao pé da esfinge, enquanto repetiam um verso 63 vezes na esperança de terem seus desejos satisfeitos. Nessa ocasião a areia invadiu a terra cultivada de Gizé e as pessoas atribuiram o fato à deformação do rosto da esfinge. O curioso é que o historiador menciona que as orelhas foram destruídas, mas isso não corresponde à realidade, pois elas ainda estão no lugar.




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